A primeira edição do festival The Town rompeu com qualquer expectativa prévia – seja por parte de quem esperava um novo Rock in Rio, seja por quem tinha como comparativo o Lollapalooza, devido à localização no Autódromo de Interlagos.
The Town carrega o DNA dos Medina e repete fórmulas de sucesso de seus precedentes, mas inaugura uma nova fase no circuito de festivais de música brasileiros, trazendo Bruno Mars como headliner da edição.
Por que não é um Rock in Rio?
Apesar de ser um festival inédito, o The Town traz consigo a bagagem inquestionável dos quase quarenta anos de Rock in Rio já trilhados por seus organizadores. Isso implica, também, em uma credibilidade que possibilita e facilita bastante a integração de instituições públicas e privadas na organização estrutural e logística do evento.
No acesso ao Autódromo, conseguimos perceber essa colaboração quando vimos um esforço mútuo entre empresas de transporte coletivo (que viabilizaram o acesso via metrô ou ônibus exclusivos) e órgãos públicos de fiscalização e segurança. A sensação era de bastante organização e cuidado, mesmo considerando o público diário de mais de 100 mil pessoas.
Outro ponto resgatado do Rock in Rio, é claro, foram os banheiros. A organização manteve seus banheiros bem estruturados e com constante manutenção. No entanto, as cabines femininas estavam longe de serem suficientes – as filas chegavam a durar até 40 minutos – enquanto as masculinas fluíam com bastante tranquilidade.
Vale ressaltar, no entanto, a preocupação com acessibilidade e inclusão: havia banheiros adaptados para pessoas com deficiência e também banheiros sem gênero.
Apesar das visíveis familiaridades – nos banheiros, nos espaços de ativação ou mesmo nas vastas áreas de gramado artificial – The Town surgiu com uma proposta única. Levar a cultura e a arquitetura de uma cidade plural como São Paulo para dentro do Autódromo pode ter sido uma tarefa complexa, mas muito, muito bem executada. Os espaços respiravam a história paulistana, de suas áreas mais históricas e industriais, representadas pelos palcos São Paulo Square e Factory, até as regiões mais cosmopolitas, ilustradas pelos prédios icônicos do palco Skyline.
A cenografia realmente estava de encher os olhos.
Por que não é um Lollapalooza?
Aqui a comparação fica bem mais óbvia, mas para quem acompanha outros eventos no Autódromo de Interlagos, a dúvida era sobre como seriam divididos os espaços e palcos no The Town.
Novamente, a credibilidade dos organizadores pode ter facilitado uma articulação com os órgãos públicos, que por meio da Prefeitura de São Paulo realizaram obras de terraplanagem, drenagem e pavimentação no Autódromo para melhorias de infraestrutura.
Enquanto o Lollapalooza assumiu os vales e colinas do local para ampliar a visibilidade dos palcos, o intuito do The Town parece ter sido planificar o espaço ao máximo – subidas e descidas eram bem menos íngremes, e os fluxos entre os espaços acabaram ficando bem intuitivos. No entanto, precisamos ressaltar aqui dois pontos importantes em relação a esse posicionamento dos palcos. O palco New Dance Order, que trouxe nomes importantes da cena eletrônica mundial, acabou muito afastado dos demais palcos do evento e prejudicado pela limitação de acesso – apesar de não estar longe da entrada principal, não havia um acesso direto à área, o que obrigava o público a dar uma grande volta interna para conseguir acessá-lo. Infelizmente, isso acabou se tornando um ponto negativo para as atrações e também para as ativações mais próximas.
O segundo aspecto a ser destacado, por incrível que pareça, é no posicionamento do Skyline, palco principal que recebeu os headliners da edição. Aqui, havia um desnível que acabou prejudicando a experiência dos participantes: o palco estava no topo de uma inclinação, e a enorme quantidade de público tornava impossível a visibilidade do palco para quem estava mais afastado.
Outro ponto que não ficou muito claro foi a escolha pelos telões laterais, que deveriam servir de apoio a esse público mais distante, mas que eram muito pequenos em relação ao espaço cenográfico construído.
As experiências de marca no The Town 2023
As ativações de marca ocuparam toda a extensão do Autódromo de Interlagos, e foi bem interessante perceber como se distribuíram e se multiplicaram pelos espaços disponíveis. Marcas como Heineken, Vivo e iFood eram vistas em todos os cantos. Trident, Club Social e McDonald’s também marcaram forte presença na venda de seus produtos. Áreas de alimentação e bebidas, na verdade, eram as mais presentes: diversos restaurantes montaram pontos de serviço nas rotas de ativações e nas proximidades dos palcos do evento, aproveitando muito bem as salas oferecidas nos ambientes São Paulo Square e Factory, por exemplo.
Com o intuito de trazer o público pra dentro de seus espaços, muitos lounges foram construídos com vistas privilegiadas para os palcos – mais um benefício dessa descentralização das experiências. Espaços como do Itaú, Volks, Globo e da Heineken, patrocinadora master dessa edição, apresentaram propostas cenográficas chamativas e espaços aconchegantes a seus clientes. Outros, como o da Vivo e da Porto Seguro, ofereceram sombra, carregadores de celular e áreas de descanso para os momentos de intervalo.Um dos destaques em ativação foi a loja conceitual da Riachuelo, montada na lateral do palco The One. Caminhando no sentido contrário dos numerosos painéis de LED que compuseram diversos espaços, a marca optou pelo impacto visual gerado por uma composição de pequenos papeis brilhantes que, ao vento, formavam desenhos e texturas hipnotizantes. Uma solução simples e criativa que chamou a atenção de longe.
Além disso, seguindo a Onda Regenerativa apresentada pelo oclb no último ebook, vimos uma forte presença de ações de impacto ambiental e social. A Gerdau, que forneceu materiais reciclados para a construção dos palcos principais, trouxe uma “máquina de agarrar” humana, educando sobre a reciclagem de sucata metálica. A Movida convidou os participantes a dançarem e contribuírem com o plantio de árvores em áreas degradadas do Cerrado brasileiro. A Braskem, em parceria com Heineken, Red Bull e Coca-Cola, organizou uma imensa operação de uso e reuso de copos personalizados. Já a Vivo reforçou a campanha Presença Preta, para promover a diversidade e manifestações artísticas do movimento nos seus espaços.
Bruno Mars e grandes nomes da música ocuparam grandiosos palcos
The Town é, antes de mais nada, um festival de música. Portanto, de nada adiantaria uma estrutura grandiosa e uma operação excelente sem uma boa curadoria de atrações. E nesse ponto o The Town acertou.
Tão plural quanto a cultura paulistana foi o lineup selecionado para o festival. Já falamos do New Dance Order representando a música eletrônica, mas precisamos falar também sobre o jazz e o R&B promovidos pelo São Paulo Square e sobre a música urbana que embalou o espaço Factory.
Por onde o público transitava, era possível entrar em contato com um estilo diferente, e todos com qualidade inquestionável. O festival também trouxe em seu repertório artistas brasileiros que vêm se consolidando no cenário pop, como Luísa Sonza, Jão, Pabllo Vittar, Marina Sena, Iza e Gloria Groove, para conduzirem os palcos Skyline e The One.
Headliners internacionais à parte, todos podemos concordar que o principal nome da edição foi Bruno Mars, com duas apresentações lotadas e uma presença de palco incomparável. Dono de numerosos hits, o cantor finalizou a primeira edição de The Town com chave de ouro, ao som de Uptown Funk e sob um show de fogos de artifício, numa noite que ficará para a história do festival.
*Esse artigo foi produzido pelo colaborador Igor Padilha à convite do oclb.