Texto por Isabella Lopes, estrategista criativa e veterana na CCXP.
Nos últimos dias eu repeti uma frase que resume bem minha relação com a CCXP: “Eu amo muito, e por isso sou tão crítica.”
São 11 anos atravessando esse festival, e ser fã muda a forma como a gente lê cada detalhe, das escolhas de experiência aos ruídos que insistem em ficar.
O primeiro impacto: o brilho que encanta e sufoca

Entrar no pavilhão é sempre um choque sensorial: estruturas gigantes, cores, luzes, som de microfones e músicas para cada estande, multidão. O que te abraça pela beleza e escala, igualmente te esmaga pela quantidade.
Eu sempre recomendo quem curte cultura pop a ir pelo menos uma vez na vida à CCXP, mas acho que essa não é uma experiência para qualquer um. “Resiliência” virou item obrigatório no kit do frequentador.
Tipos de interatividade e experiências imersivas
Foi um ano com menos “cenários instagramáveis” e mais interatividade: escape rooms, sensores de atividade mental, tracking de movimento, dinâmicas de palco, atividades temáticas de basquete, degustações imersivas, QR codes que prometiam liberar brindes.
Algumas marcas reciclaram ideias. Por exemplo, a Paramount+ que levou a ativação da Cabana, mesma que levam para o SXSW. Vale destacar a Red Bull que, na minha opinião, foi uma das marcas que mais brilhou, com um espaço bem projetado e divertido, bom gerenciamento de filas, brindes relevantes e atividades condizentes com os universos da marca (perfeitamente inseridos no da CCXP).

Alguns estandes tinham agendamento. A ideia é boa, mas na prática muita gente nem sabia dessa informação, os agendamentos esgotavam rápido e formavam-se filas diferentes na tentativa de participar.
Somos guiados pela promessa, não pelo mecanismo da experiência. O processo de decisão do público segue um roteiro quase instintivo: o que a ativação representa (o filme, série, universo que você ama); o brinde que vem no final; a dimensão da fila; e só então o tipo de atividade.
O pesadelo das filas não é só meme
A fila define o humor e dita o que você vai conseguir vivenciar. Se pensarmos no que mais nos marca em uma experiência, o começo dela e o fim, estamos nos referindo à fila para participar e aos brindes respectivamente. E esses dois pontos foram dentre os mais delicados deste ano.
As atividades mais simples como tirar foto num cenário, são mais rápidas mesmo com grandes filas; atividades em grupo demoram mais, mas +5 pessoas entram juntas e a fila anda mais rápido; e havia ativações para cada 2 pessoas com duração de +5 minutos, resultando em filas com 3 horas para participar (fora quando aparecia algum influenciador que pausava a fila para gravar conteúdo).
Vira uma equação para priorizar o que fazer: pouco tempo, muita coisa, e uma sensação constante de que você está sempre perdendo algo.
Brindes que valem a fila (ou não)
Em festivais assim, sempre tem brindes. Às vezes bom e às vezes indiferente. O que mais ouvi foram opiniões ligadas a esse 2ª tipo. Consistiam em adesivos da marca, copos (sim, aqueles copos), cards personalizados, eco-bags, coroas de papel, etc. Eram poucas as marcas que tinham algo que você realmente queria conquistar e levar de lembrança.
Essa “caçada pelos brindes” virou um tipo de ritual da CCXP há anos e, independente se o brinde é bom, você quer dizer que conseguiu, mas provavelmente vai descartar após algum tempo.
Mudanças e a necessidade de reequilibrar
Foi impossível ignorar como o pavilhão está cada vez mais parecido com um grande playground publicitário (ótimo para as marcas que sabem como se posicionar e engajar com o público).
Com a ausência de vários estúdios, o que cresce é a presença de setores que não fazem parte da alma nerd, e isso muda a atmosfera. Ainda existem ativações legais, divertidas, criativas. Mas, no geral, o sentimento é de que estamos navegando entre estradas de marca tentando encontrar nossos pequenos refúgios de cultura pop raiz.
Ser fã também é sobre pertencimento
O que fez a minha ida ao evento esse ano ser uma boa experiência foram as pessoas que reencontrei, pessoas novas que conversei e os quadrinistas que admiro e me receberam com muito carinho no Artist’s Valley. Isso somado às boas ativações de marca que fui, me fizeram esquecer os perrengues da vida e aproveitar o momento. Saí feliz dessa edição graças a esses fatores que lá atrás deram início ao conceito da CCXP.
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No fim, a jornada pela CCXP25 parecia menos um festival de cultura pop e mais uma maratona. A lógica das ativações ainda repete mecânicas que já estamos saturados e as novidades se limitam a aplicar tendências (como IA) em vez de redesenhar a experiência.
Há diversos aspectos que levariam um artigo inteiro para aprofundar (quem sabe…). Mas numa perspectiva geral, ser CCXPeiro está se tornando desafiador. A paixão pelo evento continua, mas vira uma missão para o público: a cada ano é necessário encontrar formas de fazer o momento valer a pena.