Foi difícil chegar na segunda edição do C6Fest sem expectativas altas.
A estreia do festival foi um dos nossos eventos favoritos de 2023. Foi um evento que conseguiu alinhar conforto, clima de festival, shows excelentes, boa estrutura, facilidade em sair e chegar… Enfim, foi excelente.
E aí entra a maldição da segunda edição de um evento, quase como na maldição do segundo disco. Expectativa inevitavelmente lá em cima, foi a hora de ver se a realidade conseguiria acompanhar.
Confira como foi o C6Fest 2024.
Um festival sem ativações de marca
Mas por uma boa causa.
C6 Bank, Heineken e Metlife decidiram doar o dinheiro que investiram nas ativações para instituições que estão ajudando vítimas da tragédia no Rio Grande do Sul.
Nos lugares onde seriam as ativações das marcas, placas indicavam a instituição escolhida para a doação e faziam um convite ao público para também contribuir através de um QR Code.
Nossa única observação é que as placas estavam discretas demais (especialmente ao anoitecer), e algumas passavam despercebidas entre outros espaços, como bebedouros, bares e restaurantes. As pessoas notavam que não tinham ativações no festival, mas não necessariamente ficaram sabendo o porquê.
Mas foi um posicionamento interessante das marcas, deixando claro o que é prioridade neste momento no Brasil: a empatia e solidariedade com o povo gaúcho.
Festivais dentro de um festival
Diferente do ano passado, o C6Fest unificou os ingressos que davam acesso aos palcos Pacubra, Tenda Metlife e Arena Heineken.
Já o Auditório Ibirapuera permaneceu com ingressos exclusivos (e esgotados), o que faz sentido considerando a restrição de lugares do teatro. Aqui a experiência foi outra, mais intimista e voltada pro jazz e pra música clássica.
Porém, quanto aos demais, a experiência de transição entre um palco e outro ainda não parece ter chegado a sua forma ideal.
Este ano, o caminho entre a Arena Heineken e Tenda Metlife e Pacubra ficou um pouco mais longo, em partes devido à uma obra no Parque Ibirapuera. Para entender melhor, segue o mapa desta edição:
Mesmo com o mapa disponível no evento, a experiência foi confusa e o evento publicou um vídeo depois do início do festival explicando como se locomover para tentar resolver esta questão.
Aliás, assim como no ano passado, continuou proibido entrar em um palco com bebidas adquiridas no outro. Também eram necessárias revistas a cada vez que você fosse entrar naquele espaço. É um protocolo que eles dizem ser necessário nessa configuração, mas que impacta negativamente o fluxo da experiência.
A consequência desses trâmites é que os espaços pareciam isolados entre si, com parte do público evitando circular muito entre os dois. Em alguns momentos, era preferível não circular, o que é algo contraditório à natureza dos festivais.
Um line-up certo
O C6Fest manteve seu legado de trazer ao Brasil nomes que talvez não viriam em outros festivais, como a estrela britânica Raye ou a Cat Power fazendo um show de homenagem ao Bob Dylan.
Mas, este ano, o festival também apostou em nomes mais populares como Daniel Caesar, Noah Cyrus e Black Pumas.
Deu pra notar que o line-up é majoritariamente de artistas gringos, né? Mas tiveram nomes brasileiros também. Negra Li, Preta Gil, Luccas Carlos, Liniker e outros nomes fizeram um show em homenagem ao Cassiano, por exemplo. Também tivemos o encontro de Jaloo com Gaby Amarantos e o indie de Jair Naves, além da Valentina Luz e outros DJs no Pacubra.
O resultado foi positivo: vimos shows excelentes. Romy, 2ManyDJs e Young Fathers levaram o título de favoritos por aqui, além do Dinner Party no Auditório.
Mas alguns pontos deixaram a desejar.
A programação errada
Antes mesmo do festival começar, quem acompanhou as redes sociais do C6Fest pode ter notado os comentários reclamando do conflito de horários das apresentações.
Nada que não aconteça nos demais festivais.
Mas considerando a distância entre os espaços e a escalação dos artistas na programação, nesse caso em particular, conflitos de horários realmente prejudicaram a experiência dessa edição do C6Fest.
Era necessário sacrificar o final de um show para trocar de palco para ver o outro, que você provavelmente também não viu o começo para não perder tanto do anterior.
Para evitar os conflitos, talvez fosse possível esticar o festival, uma vez que encerrava às 22 horas nos palcos externos ao Auditório. Mas reconhecemos que essa escolha também pode ser por restrições de horário no espaço.
Um outro tópico que reverberou entre o público foi a escolha dos palcos em que os artistas do festival se apresentaram.
Foi o caso com o clássico indie rock Pavement, um dos headliners do evento subdimensionado para a Tenda, ou do duo de rap Paris, Texas, que pareceu íntimo demais para estar na Arena.
Entre bares e bebedouros, a tecnologia ficou em destaque
A Heineken disponibilizou bares de autoatendimento em sua Arena. Era só chegar, aproximar a pulseira, colocar o copo (eco) da marca na torneira automática e pronto, sua cerveja em mãos.
A ação ajudou (e muito) a aliviar as filas dos bares “com humanos ” (seria esse o futuro normal?). Parte do público parecia comprar só pela curiosidade de testar a tecnologia.
O C6Fest também disponibilizou água gelada e gratuita para o público em bebedouros modernos, minimalistas e classudos, alinhado com a proposta cenográfica e estética do festival.
Mas como os bebedouros localizavam-se exclusivamente neste espaço, quem optou por ficar na Tenda Metlife ou no Pacubra não teve outra opção a não ser comprar água.
Para a próxima edição, será importante considerar distribuir os pontos de hidratação também para os demais palcos.
Falando em futuro…
O festival já adicionou um “até a próxima edição” na bio das redes sociais e nós só podemos dizer o mesmo.
Enquanto persistem os problemas estruturais, foi nos detalhes que a edição brilhou. A praça de alimentação, os totens da marca, uma contagem de lotação da tenda nas saídas e entrada das áreas de shows, muitos espaços de descanso e sombra… Detalhes nada pequenos pareceram ter um zelo especial.
Apesar de espaço para melhorias (como sempre terá), o C6Fest continuou como um festival que dá gosto de ir, e ainda mais de voltar. Estaremos lá.