Quem frequenta festivais, sabe: é raro um alinhamento dos astros à favor da produção. Chuvas e desastres naturais, cancelamentos de artistas, staff desfalcado, abusos por parte do público e tretas desalinhamentos com órgãos públicos ou com a gestão do espaço são apenas algumas das surpresas que qualquer organizador de festival tem que encarar (a cada edição).
Por isso, quando tudo dá certo, é possível sentir uma espécie de magia no ar. Um clima de leveza e orgulho, a sensação de missão cumprida após longos meses de planejamento.
Assim foi o Meca Inhotim 2023. Um festival tão redondo que pareceu um um conto de fadas.
Inhotim: o Brasil que todo Brasileiro deveria conhecer
Desde 2016, a mais famosa edição do festival que nasceu no Rio Grande do Sul em 2010, acontece também no Instituto Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais.
Sede de um dos maiores acervos arte contemporânea do Brasil e um dos maiores museus a céu aberto do mundo, o Inhotim em si pode ser considerado o principal headliner do festival.
É inevitável pensar no Inhotim e não lembrar do desastre que aconteceu em Brumadinho em janeiro de 2019, com o rompimento da barragem da Vale. O motorista do carro que alugamos para o trajeto de uma hora entre Belo Horizonte e o Inhotim nos chamou a atenção para uma obra ainda cercada de muros poucos minutos antes de chegarmos ao nosso destino final: “aqui será o monumento aos mortos do acidente da Vale”. Para sempre será uma cicatriz incômoda e necessária.
Felizmente, o Inhotim permaneceu intocado ao acidente. Ele é um pedacinho do céu, um lugar inacreditável e muitíssimo bem preservado, que inclui uma vegetação abundante e estonteante planejada pelo paisagista Burle Marx e recheado de galerias com arquitetura e obras de arte que valem um “wow” seguido de mais “wow”.
É difícil caminhar pelo Inhotim sem deixar de ficar boquiaberto. Sabe aquele Brasil do futuro que tanto já disseram por aí? Então, programe uma viagem para o Ihnotim que você vai encontrá-lo entre uma galeria de arte e outra lá.
Diversão e arte para qualquer parte
O Meca Inhotim aconteceu durante três dias, de sexta a domingo. Carol e eu fomos apenas no sábado.
Sua programação começou ainda pela manhã, com o MECA Market (feirinha para compras) e o MECA Talks (palestras com convidados). No sábado, ainda rolou uma visita guiada de duas horas por galerias do Inhotim em uma iniciativa patrocinada pela Johnnie Walker.
Os shows só começaram depois das 17:00. Isso acontece porque até esse horário, o Inhotim mantém portas abertas para receber seus visitantes, sejam eles portadores de ingresso do festival ou não.
Nós chegamos lá por volta das 14:00. Almoçamos no restaurante Hélio Oiticica em um self service caprichado com preços de São Paulo (R$ 79.90 o quilo) e aproveitamos o intervalo até os shows começarem para visitarmos galerias, tirarmos fotos, passearmos pela Igrejinha (onde rola o MECA Market e Talks), encontrarmos amigos e tomarmos um dos nossos cafés especiais favoritos de BH – o Oop – que fica do lado da galeria Rouge.
Também aproveitamos esse momento mais calmo para explorarmos as experiências de marcas…
A experiência das marcas no MECA Inhotim
A Heineken foi a principal patrocinadora do evento e trouxe consigo marcas irmãs. Havia bares temáticos da Blue Moon e, além da verdinha, a Ipa Lagunitas e a nova marca de refrigerantes CLASH’D e FYS estavam à venda nos bares do festival.
A Heineken também criou uma série de ativações alinhadas com a sua plataforma de sustentabilidade, Green Your City. Painéis solares na entrada do evento, cenografia feita de materiais usados em outros eventos (como tênis e baldes) e uma parceria com o Meu Copo Eco permitia às pessoas usarem o mesmo copo durante todo o evento, ou trocá-lo por um limpo.
A cerveja também assinou a pista de dança do evento, trazendo uma seleção de DJs que tocavam no intervalo dos shows logo abaixo de uma das instalações de arte mais icônicas do Inhotim: o Jardim de Narciso, da artista Yayoi Kusama.
Johnnie Walker montou o bar mais bonito do festival. Amarelo, minimalista e convidativo, ficava ao lado do palco principal e serviu drinks exclusivos criados para o evento, como o Black Guajava, feito de Johnnie Walker Black Label, xarope de goiaba, abacaxi e suco de limão-rosa. Pela noite, um detalhe que fez a diferença: nos fundos do bar, uma animação com o Johnnie Walker refletia-se no lago à distância.
JW também voltou sua comunicação para as mulheres, distribuindo cangas estampadas por artistas e patrocinando uma palestra conduzida por mulheres (além da visita guiada já mencionada).
Vale destacar o cuidado da produção ao envelopar os bares com cores que combinavam com a colorida (e instagramável) instalação de Hélio Oiticica. A paleta de cores foi minuciosamente pensada. Essa área, composta dos bares, palco principal e público com looks fashionistas lembrou um mini Coachella (só que ainda melhor: sai o deserto e entra a rica vegetação projetada por Burle Marx)
Um terceiro bar chamou a atenção do público e foi uma grata surpresa para nós. A NotCo, foodtech chilena que produz comidas e bebidas feitas à base de plantas, marcou presença pela 1ª vez no festival com um bar que servia drinks alcoólicos e não alcoólicos feitos com o seu lançamento, o NotMilk Barista.
Aqui, fica um aprendizado para as marcas de bebida: pela noite, quando a temperatura caiu e chegou a marcar 10ªC, ter um copo quentinho nas mãos é tudo que a gente quer. A alegria das pessoas que pegavam um drink saindo fumacinha naquele sereno foi um ponto alto dessa experiência de marca. Para a produção do evento, desse e qualquer outro, fica a dica o pedido: um vinhozinho cai muito bem nesse clima também, viu?
A NotCo ainda desenvolveu uma coleção de roupas em parceria com a Desgosto. O casaco azul e estampado foi um dos acessórios mais disputados do festival e a lojinha dentro do bar-container da NotCo também ficou animada com curiosos e compradores.
Afinal, como foi o MECA Inhotim 2023?
O saldo da experiência foi super positivo (e já estamos com a roupa de ir na próxima edição).
A experiência musical foi agradável, em parte pelo horário das apresentações (das 17:00 à 1:00), em parte pela restrição de público que o próprio Instituto Inhotim limita à organização (no máximo 3 mil pessoas x dia).
Tuyo, Luedji Luna e Daniela Mercury foram alguns dos principais destaques de sábado, assim como os DJ sets de Jaka, Kingdom e Diogo Strausz. Música é subjetivo, cada um tem um gosto, mas confesso que sentimos falta de mais atrações inusitadas e shows com uma pegada mais animada.
O clima estava perfeito: nada de chuva, sol quente pela manhã, mas com muitas sombras embaixo das árvores para esticar as cangas e descansar as pernas. Mais à noite, rolou aquela queda abrupta de temperatura que deu uma rasteira nos mais desavisados. Felizmente, a maioria das pessoas estava preparada e o evento terminou cedo. Taí uma oportunidade para mais marcas explorarem (uma touca de frio ou um lenço para o pescoço fariam bastante sucesso).
Não experimentamos nada na praça de alimentação, preferimos almoçar e jantar bem no restaurante local. Os preços das comidas estavam na média dos grandes festivais de São Paulo (R$ 30,00 a 40,00 um lanche vegano da NotCo, entre outras opções bem mineiras como uma larica sobremesa de Goiabada Cremosa)
Nos chamou a atenção o público, majoritariamente composto de homens. Segundo a organização do festival, esse foi o primeiro ano em que conseguiram aumentar o percentual de pessoas vindas de BH. Até então, a maioria vinha de São Paulo. Essa é uma questão para o Meca se debruçar no próximo planejamento.
O evento é, pela natureza do local, pouco acessível. A logística da viagem, hospedagem limitada por perto e preços de transportes são pontos de atenção. Neste ano, pela 2ª vez, a organização do MECA fez uma parceria com a Buser, que disponibilizou ônibus saindo e voltando para BH.
O MECA Inhotim 2023 fez jus à sua fama. É um dos mais desejados festivais do Brasil e o Inhotim um dos espaços mais belos do país. Quando tudo dá certo, o resultado é uma experiência inesquecível, daquelas que a gente sai com a vontade de voltar para um bis.