Responda com sinceridade, quando foi a última vez que você esteve em um evento sem usar o celular?
Desconectar tem sido um privilégio e essa percepção não passa despercebida pelo mercado de eventos, como apontamos nas tendências para criadores de experiências em 2024.
Apesar de não ser um movimento inédito, a proibição ou restrição de aparelhos eletrônicos em eventos parece estar passando por uma reconfiguração.
Afinal, o quanto a nossa relação com o digital não mudou desde que o Jack White proibiu celulares em seus shows em 2018?
Faça o teste e volte às reportagens da época. O sentimento geral, como neste artigo do The Guardian, era de que banir telefones seria um erro enorme – quase uma ofensa pessoal.
Mas se antes a proposta de guardar o telefone durante um show era vista com desconfiança, hoje essa prática está se tornando uma resposta ao anseio por menos estresse e mais presença.
Sem celulares, “a festa voltou”
Foi o que o organizador do No Art Festival, evento holandês de eletrônica, disse em entrevista sobre o banimento de telefones no seu festival.
Nos últimos meses, o verão europeu viu um boom das experiências desconectadas.
A festa de eletrônica Afterlife propôs banir celulares em sua residência em Ibiza, decidindo isso democraticamente por meio de uma votação no Instagram, onde 9.000 pessoas apoiaram a medida.
Outro exemplo é o The Offline Club, em Amsterdam, onde a regra é clara: nada de dispositivos eletrônicos. Quer entrar? Deixe o celular ou o computador na porta. E é uma experiência completa, com cronograma, vale a pena ler o relato de quem participou.
Essa tendência não se restringe à Europa; eventos como o This Never Happened na Austrália e festas no Brasil, como a ERRORR, também estão experimentando esse formato.
A publicidade também está acompanhando a tendência, com o marketing tradicional voltando a ganhar força frente à fadiga digital.
A Heineken, com sua campanha The Boring Phone, promoveu um evento secreto no Rio de Janeiro para “levar você a um tempo onde smartphones eram menos importantes”. Uma noite com show surpresa da Joss Stone e celulares sem redes sociais.
Além da imersão: entre a privacidade e o ostracismo
Entre em qualquer club de eletrônica em Berlim e você receberá um adesivo para tampar a câmera do celular.
Essa não é uma medida apenas para manter a experiência exclusiva e misteriosa desses espaços, mas também para a privacidade daqueles que frequentam o ambiente.
E em um contexto de virais no TikTok, onde filmar estranhos se tornou comum, ambientes sem celulares oferecem uma garantia de que os participantes podem aproveitar sem receio de serem gravados sem autorização.
E quem não quer evitar um registro não autorizado às 5 da manhã numa festa?
Mas essa é uma faca de dois gumes. Enquanto promotores de evento garantem a privacidade e imersão dos participantes, eles perdem menções e registros nas redes sociais.
E neste cenário de altíssima competição no mundo dos eventos, onde você precisa fortalecer sua marca, isso pode vir a ser um problema.
Participantes também têm reações mistas. Uma rápida análise dos comentários no anúncio da medida na ERRORR já nos mostram isso.
Para algumas pessoas, o digital complementa a experiência e não a atrapalha. Eventos também são fonte de conteúdo para os fãs publicarem nas redes sociais, além dos seus registros pessoais.
Imagina o atual Rock in Rio sem celulares, por exemplo. Seria como um novo evento tanto pros fãs, quanto para organizadores e marcas. Quer dizer, será que dá pra imaginar um festival do tamanho do Rock in Rio sem celulares?
A experiência offline é para você?
Ao desenhar sua próxima experiência, é preciso ponderar.
De um lado, temos um público sedento por desconexão; do outro, há aqueles que veem as redes sociais como parte integrante da vivência do evento.
O desafio para marcas e produtores é entender qual caminho faz sentido para o seu caso.
Afinal, a verdadeira imersão pode estar tanto na inovação tecnológica quanto na simplicidade de permitir que os participantes estejam plenamente presentes no agora.