Estivemos pela segunda vez no South Summit, em Porto Alegre, evento que abre o calendário dos festivais de inovação no Brasil (leia aqui o review de 2022).
Diferente do ano passado, dessa vez não conseguimos assistir a uma só palestra. Não foi por falta de interesse.
A curadoria de palestrantes e conteúdos foi boa. O que nos impediu foram “coincidências” e “condições” que viraram a inspiração para este artigo. Elas apontam tendências para o futuro dos eventos. Em particular, para os eventos corporativos com foco em palestras e networking.
As coincidências foram encontros com pessoas que não víamos há anos ou que só conhecíamos virtualmente. Antes mesmo de cruzarmos os portões do South Summit no Cais do Embarcadero, aproveitamos a oportunidade de conversar pessoalmente, ao vivo e em cores, com profissionais que admiramos. As palestras marcadas para aquele horário, caíram intencionalmente.
Já as condições foram meteorológicas. Fazia um calor infernal em “Forno Alegre”. No segundo dia de festival ainda choveu. Dentro dos galpões, a ventilação não dava conta do clima úmido e abafado. Se algum patrocinador oferecesse ao público aqueles ventiladores portáteis, ganharia fácil o nosso prêmio de melhor experiência de marca.
Para completar, alguns dos espaços onde aconteceram as palestras do South Summit estavam subdimensionados para a quantidade do público presente. Simplesmente, não davam para entrar.
Isso acontece com frequência em eventos desse tipo. Aconteceu no South Summit, mas também no SXSW, no Web Summit e em outros. Mas é aí que a experiência do streaming em eventos faz toda a diferença.
Web Summit: palestras gravadas como conteúdo complementar
Tomemos o Web Summit como exemplo.
Sua edição em Lisboa é uma das maiores conferências de tecnologia do mundo. Ao longo de quatro dias, o evento reúne milhares de palestrantes em mais de uma dúzia de palcos temáticos.
Mas o conteúdo não é o forte desse evento. Dizemos em palestras que o Web Summit tem foco em network e em sua gigantesca feira de expositores. As palestras são uma “cola” para o que acontece entre reuniões de negócios e showroom de produtos, e uma “isca” (ou justificativa?) para atrair seus participantes.
Com média de 20 minutos, as palestras são seguidas umas das outras sem intervalos e, com exceção do que acontece no Centre Stage (palco principal), a maioria se realiza em ambientes barulhentos e com alto grau de dispersão. Concentrar-se no Web Summit é um desafio até para os mais experientes praticantes de meditação.
Porém, felizmente, aplica-se o streaming em eventos e todas as suas palestras são gravadas. A qualidade de captação de áudio é perfeita, porque é gravada direto da mesa de som. Esse recurso é essencial para apresentações de download e wrap-ups pós-evento. Além disso, se precisamos estudar um assunto mais tarde que não conseguimos acompanhar no evento, existe o app pra isso. Ponto pro Web Summit.
SXSW TV e a experiência híbrida
Já no SXSW, tudo gira em torno do conteúdo. Palestras de uma hora, intervalos de 30 minutos, salas grandes e climatizadas e sem expositores em volta disputando a sua atenção.
A experiência online do South By, porém, não é das melhores.
Existe um aplicativo para acompanhar a programação, o SXSW Go, que é confuso e com recursos limitados; e um aplicativo exclusivo de streaming em eventos para as principais palestras, o SXSW TV. Nele, são hospedadas algumas palestras que aconteceram no festival, com a mesma lógica do app de programação: as sessions dividem-se na categoria Conference e em algumas das tracks do evento (nem todas estão no app).
Na hora de assistir aos videos, não é possível usar recursos como acelerar a velocidade, mas dá para assistir a algumas palestras com legendas (closed caption). O app não é incrível, mas ajuda bastante se você perdeu alguma session ou quer revê-la mais tarde.
O conteúdo como parte da jornada
Entre esses dois exemplos, a moral aqui é essa:
Se você produz um evento cuja isca principal para atrair as pessoas são palestras, então você precisa garantir que esse conteúdo seja consumido da melhor forma possível pelo seu público.
Ou prevê streaming do evento e grava tudo para disponibilizar depois (em alta qualidade). Ou investe na experiência presencial dos participantes, com salas climatizadas e que acomodem confortavelmente o público. No melhor dos mundos, capriche nas duas experiências, online e presencial.
Não dá para mudar o espaço? Reduza a quantidade de ingressos vendidos, distribua o evento em mais dias, mais lugares… descentralize.
Voltando ao exemplo do South Summit, em Porto Alegre.
Por experiência, evitamos ir a qualquer evento no primeiro dia. É o dia de testes, onde acontece a maior parte dos problemas. Ao invés disso, no dia de abertura do South Summit optamos por passar a tarde no Instituto Caldeiras, um dos mais incríveis e agradáveis hubs de inovação do Brasil.
Fizemos uma visita guiada pelo espaço, nos conectamos com outros profissionais e almoçamos no 20Barra9 do Mercado Paralelo (onde também tomamos um ótimo café no Startt & Brothers.) Será que o Caldeiras e o Mercado Paralelo não poderiam receber algumas palestras do South Summit? #FicaDicaProdução
O futuro dos eventos e experiências ONELINE
Nos últimos dois anos, o setor de eventos sofreu profundas transformações. O show não acabou, mas teve que mudar de palco. Games, plataformas de streaming e ferramentas como Zoom, Meets e Teams ajudaram, mesmo que compulsoriamente, a nos conectarmos (se você, ainda hoje, diz que odeia as lives, imagine como seria a sua vida durante a pandemia sem essa tecnologia?).
O fato é que essas transformações tiveram profundas consequências em nosso comportamento.
De um lado, estamos mais do que nunca sedentos por conexões e experiências presenciais. De outro, descobrimos as vantagens do streaming: comodidade, acessibilidade, e, para o organizador do evento, alcance e escala. Criadores de eventos do futuro presente são aqueles que entendem que a jornada de experiências das pessoas não é mais off ou online. É, sim, ONELINE.