O futuro da alimentação nos eventos

Alimentação nos eventos
Crédito: Samuli Pentti / Divulgação Slush

Você já reparou nas opções de alimentação nos eventos que frequenta ou produz?

Quando falamos sobre o futuro dos eventos, é difícil não mencionar o elefante na sala: para criarmos eventos mais sustentáveis, a conversa também precisa passar pela praça de alimentação.

Eventos mundo afora, em especial na Europa, há alguns anos vêm investindo em praças de alimentação vegetariana ou veganas, preferencialmente com comidas orgânicas fornecidas por produtores locais.

No Brasil, já enxergamos iniciativas do tipo, mas essa é ainda uma pauta sensível por aqui.

Afinal, estamos falando de um país em que a feijoada e churrasco são eleitos como pratos típicos favoritos, mas que também apresenta 14% da população vegetariana.

Quando trazemos para o contexto de eventos, a conversa sobre a transição alimentar não é uma questão de preferência pessoal, e sim uma estratégia prática e urgente para enfrentar um grande desafio do nosso setor: a redução do impacto ambiental.

(Calma, respira… Antes que você torça o nariz, leia esse artigo, entenda primeiro o contexto para depois formar a sua opinião, combinado?)  

Por que precisamos de mais A&B verdes?

Os dados não mentem: alimentos e bebidas (A&B) representam, em média, 34% da emissão de carbono de um festival.

Esse é o 2º fator mais poluente de um evento, atrás somente da emissão de carbono relacionada ao transporte de artistas, público e produção, segundo o A Greener Future.

No festival norueguês Northside, por exemplo, as carnes chegavam a representar 60% das emissões de toda a alimentação do festival.

Ou seja, as escolhas da praça de alimentação refletem diretamente na emissão de CO₂ de um evento. Este gráfico produzido pelo Circular Festival nos ajuda a entender como.

Rótulos de Alimentação nos Eventos - Circular Festival - oclb
Crédito: Circular Festival | Tradução: oclb

Quando um evento ou festival faz a transição, podemos realmente entender esse impacto.

No também norueguês Øya Festival (que estivemos ano passado e você pode ler a review aqui), a redução de carnes e laticínios do menu contribuiu para uma redução de 82% das emissões de carbono por A&B de 2019 a 2023.

O mesmo aconteceu no DGTL, na Holanda. Sua transição para uma praça de alimentação 100% vegana resultou na redução de 73% das emissões de CO₂ do festival. 

Fica a dica: o DGTL produziu um mini-documentário contando mais sobre seu processo de transição em parceria com a Beyond Meat. Você pode assistir aqui.

E para quem tem dúvidas se uma iniciativa como essas funcionaria no Brasil, o festival carioca Rock the Mountain também oferece um cardápio 100% vegetariano – tanto para o público, quanto para o backstage. 

Como começar a transição para A&B mais verdes

Mudar a alimentação de um evento não é uma tarefa fácil, mas possível. 

Há duas instâncias: estrutural e cultural. E elas precisam ser trabalhadas juntas para termos eficácia nessa transição.

Seguem algumas estratégias práticas de quem já passou por isso:

  1. Comece aos poucos: Implementar uma proporção de 80% de opções plant-based e 20% com produtos de origem animal é um bom ponto de partida, como sugere o founder do festival NorthSide. Realizar análises de CO₂ do cardápio ajuda a identificar onde está o maior impacto e onde ajustar.
  2. Garanta qualidade e sabor: A comida é, acima de tudo, uma experiência sensorial. Trabalhe com parceiros e fornecedores especializados para garantir que as opções vegetarianas e veganas sejam saborosas e atrativas.
  3. Evite termos que gerem resistência: Polêmico, mas palavras como “vegano” ou “vegetariano” afastam quem tem preconceitos e reduzem as vendas. Uma alternativa é usar ícones para identificar os pratos sem carne. Esta foi uma das medidas que ajudou o Dutch Chili Fest a aumentar as vendas de hambúrgueres plant-based de 4% em 2023 para 46% em 2024.
  4. Incentive o consumo consciente: Destacar as opções com menor impacto ambiental no topo do menu e oferecer preços mais acessíveis para opções veggies também é uma boa tática.
  5. Invista na comunicação: Explique ao público o porquê da transição e o impacto positivo dela no meio ambiente. Mostre que a escolha individual de cada participante contribui para um evento mais sustentável.

Uma necessidade para eventos mais sustentáveis

É importante lembrar que oferecer um cardápio vegetariano ou vegano no evento não é obrigar o público a seguir uma dieta específica no seu cotidiano. 

Quando falamos em eventos, nos referimos a algumas horas do dia de alguém ou, no máximo, alguns dias da sua semana.

A transição por um A&B mais verde nos eventos não é uma medida de vaidade ou apenas uma estratégia de marketing. É uma necessidade para um mundo verdadeiramente melhor.

Então, aproveite que o ano acabou de começar e coloque em prática mais uma resolução na sua lista: revisar o cardápio dos seus próximos eventos.