quando a pandemia vai acabar?

covid-19

Depois de escutarmos o podcast Café da Manhã da última sexta-feira, encasquetamos com a pergunta que não quer calar: “Quando a Pandemia Vai Acabar?”. A entrevista do episódio foi com Pedro Hallal, epidemiologista e professor da Universidade Federal de Pelotas, que coordena o Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico do Brasil sobre o coronavírus no Brasil. 

Embora atualmente 26% da população Brasileira esteja imunizada, diversas cidades do Brasil já retomaram as suas atividades em pleno vapor, como se a pandemia estivesse acabado.

No Rio, o governo anunciou planos de réveillon, incluindo 13 palcos espalhados pela cidade (olha a foto desse final de semana na praia!). Em São Paulo, as restrições para atividades de comércio e serviço se encerraram na semana passada. Não vamos nem falar do jogo do Atlético no Mineirão em BH na semana passada, né?

Em contraste, nos Estados Unidos, dezenas de eventos voltaram a ser cancelados diante do novo surto em decorrência da variante Delta, que quadruplicou no último mês o número de infecções no país. Na Europa, Austrália e Nova Zelândia, a situação não é diferente. 

Por aqui, é justamente o Rio de Janeiro o novo epicentro da variante Delta no país, responsável por 60% dos novos casos.    

Segundo o epidemiologista, se não fosse pela variante Delta, provavelmente a Organização Mundial da Saúde (OMS) já teria decretado o fim da pandemia. 

Pandemia, lembra ele, significa uma epidemia em nível mundial. E uma epidemia acontece quando há descontrole sobre o contágio de uma doença.

O problema é que a variante Delta é muito mais transmissível que as versões anteriores.

Segundo estudos do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos

“A variante Delta é quase tão transmissível quanto a catapora — com cada pessoa infectada infectando até oito ou nove outras, em média. A cepa original do coronavírus, indicada pelo CDC, era quase tão contagiosa quanto o resfriado comum, com cada pessoa infectada infectando outras duas.”

Como o professor Pedro Hallal ilustra em um exemplo didático: 

“Estamos vivendo uma situação de um ‘cabo de guerra’. De um lado, temos a vacinação, que consegue frear o avanço de casos graves e o contágio da doença. Do outro lado, temos a variante delta, os negacionistas, os antivaxers e a possibilidade do vírus continuar evoluindo, até surgirem novas variantes mais letais e ainda mais transmissíveis”.

O Futuro Anormal

Infelizmente, a pandemia ainda está longe de acabar. Mais de 120 países já registraram novos casos da variante Delta

Por outro lado, depois de 18 meses, conhecemos melhor o novo coronavírus. As vacinas já são uma realidade e, por isso mesmo, a tendência é que a pandemia chegue ao fim em breve. 

Segundo o professor Pedro Hallal, “na virada do ano, a situação deve voltar a melhorar. Virada do ano não é agosto, é a partir de dezembro, janeiro… Existe esperança de termos Carnaval, mas depende de como vamos controlar a variante Delta até lá.”

Embora haja perspectivas otimistas, pelo menos do lado de cá, não acreditamos em um futuro normal. 

Melhor seria chamá-lo de futuro anormal, já que é inevitável pensar no amanhã ignorando o trauma coletivo que a população mundial sofreu e ainda sofre diariamente. 

É impossível chamar de normal um futuro com mais de 600 mil mortes no Brasil. Todo mundo conhece alguém que morreu de covid, sejam estrelas da TV como Tarcísio Meira e Paulo Gustavo, ou conhecidos, vizinhos, amigos, pais, irmãos, companheiros…

Não dá pra pensar em um futuro normal depois da ressaca que essa doença vai deixar. Crise econômica, ambiental e política. Desemprego em nível recorde, queda do poder aquisitivo e a inflação e o dólar que não param de crescer.

É difícil também imaginar um futuro sem máscaras. Como já fazem os asiáticos desde 2009, quando foram atingidos pela pandemia influenza do vírus H1N1, a qualquer primeiro sinal de gripe, voltaremos a usá-las. Máscaras tendem a ser um acessório comum por aqui, especialmente em ambientes fechados.  

Mas para não dizer que não falei das flores, nem tudo são espinhos. 

Telemedicina, trabalho remoto, educação à distância, eventos online e experiências digitais. Tudo isso – e muito mais – acelerou-se de forma exponencial desde o início da pandemia.

Yuval Harari, historiador e filósofo israelense, autor de “Sapiens: Uma Breve História da Humanidade”, afirmou que combater a Covid-19 poderia levar ao ‘melhor sistema de saúde da história’ (mas também abrir as portas para uma nova era de vigilância invasiva e opressora).

No Brasil, 64 líderes de comunidades de baixa renda responderam a uma pesquisa nacional e chegaram à conclusão de que a pandemia nos ensinou a ser mais solidários

Por fim, como viemos apresentando semanalmente nessas últimas 100 edições da Cápsula, “o show nunca parou, só mudou de meio”.  

A indústria do entretenimento teve que parar, mas só por um momento. Ela se adaptou. Vieram primeiro as lives, depois as super-produções, festivais e turnês digitais. 

A indústria dos games, que já era grande, virou onipresente e hoje mais de 70% da população conectada no Brasil é também gamer.

Milhares de Brasileiros passaram a usar a internet para fazer compras online, comemorar aniversários ou participar de festas pelo Zoom, participar de cultos online e até despedir-se de pessoas queridas em funerais que aconteceram dentro de games

“A revolução não será televisionada, ela acontece ao vivo”, escreveu o poeta e músico ativista Gill-Scott Heron. Continua sendo verdade. 

Não existe futuro normal, existe a realidade de agora, que acontece ao vivo, dentro e fora das redes sociais, enquanto você lê essas palavras.

Para concluirmos a Cápsula nº 100, vamos aos fatos:

1 – A pandemia vai acabar, cedo ou tarde (torcemos para que seja antes do Carnaval)

2 – Não foi a primeira e não será a última. Prepare-se para as próximas (nós já começamos). 

3 – Ao invés de nos preocuparmos com o futuro, devemos trabalhar para mudarmos o anormal de hoje. 

Só assim, garantiremos um futuro que mereça ser chamado de normal.

Quem sabe numa próxima da Cápsula?

Até lá, a gente continua por aqui juntinhos, como no início da pandemia: ninguém solta a mão de ninguém.