Já tem mais de um ano que a galera do entretenimento tenta responder a pergunta que vale 1 milhão de dólares: quando voltam os eventos presenciais?
Se você conhece o termo “v.u.c.a.”, vai saber que ele define bem o que estamos vivendo agora. Essa sigla (em inglês) é composta pelas palavra: volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade (desde o ano passado, a sigla BANI também vem sendo amplamente adotada).
É exatamente esse o cenário que temos agora: muitas dúvidas e rápidas mudanças.
Ninguém tem bola de cristal, mas é possível fazer previsões com base no que já vivemos e nos aprendizados que tivemos ao longo desse período de distanciamento social.
Uma boa forma de analisar a conjuntura, é ter um pensamento glocal: que é ter como referência o que tá acontecendo no mundo, mas levar em consideração a cultura local.
Como diria Peter Drucker: “a cultura come a estratégia no café da manhã”.
Com isso, queremos dizer que são muitos os fatores que interferem na jogada, e a forma como um país se comporta, se organiza e é governado, vai dizer muito sobre a velocidade e forma como esses eventos vão ser retomados.
A contenção da pandemia em alguns lugares, fez com que países como Inglaterra, EUA, Austrália e Nova Zelândia já tenham começado a ensaiar essa volta dos grandes eventos presenciais, mas infelizmente não podemos dizer que aqui no Brasil vamos surfar essa onda tão cedo. Pelo menos, não para os mega eventos, que demandam muita mobilização de recursos e infraestrutura.
Em Chicago, nos EUA, a vacinação avançada vai permitir que o festival Lollapalooza realize uma edição presencial em julho (para 100 mil pessoas!), mas a produção irá exigir que seus participantes apresentem um comprovante de vacinação.
Já o tradicional festival de camping Bonnaroo, em Manchester (no Tennessee), adicionou uma cláusula na compra do ingresso, que diz que o participante assume a responsabilidade por todos os riscos relacionados à exposição ao Covid-19.
Essa é uma questão que vem sendo discutida em todo o mundo. É certo que os produtores de eventos transfiram essa responsabilidade pro público? Seguradoras não tem cláusulas contra epidemias, portanto, esse é um assunto que engloba a questão ética e que ainda vai render muito debate.
Outro aspecto mais sensível ainda é a distinção entre quem toma vacina ou não. Nem todes podem (ou querem) se vacinar.
Independente do que você acredite, essa é uma decisão que toca diretamente na liberdade individual (paradoxalmente, se você, como eu, acredita que todes deveriam ser obrigades a tomar vacinas, ainda assim, mesmo que “pensando no coletivo”, essa não deixa de ser uma opinião individual).
Felizmente, pesquisas indicam que não é preciso que todos estejam vacinados para a pandemia ser controlada. Basta que 75% da população o faça, como vimos na recente cidade de Serrana, em São Paulo.
Outro ponto crucial que precisamos levantar aqui é esse: nem todos os eventos são todos iguais! Pra evoluirmos nessa conversa sobre a volta dos eventos presenciais, precisamos antes desmistificar essa classificação e tratar os eventos de acordo com a sua natureza.
Se ao pensar em eventos, vem na sua cabeça aglomeração, suor, rodinha na frente do palco e muito contato físico, saiba que nem todos são assim.
Um aniversário no parque, com poucos convidados, cada um na sua canga e em ambiente aberto, também é um evento. Um campeonato de futevôlei na praia, com público limitado na arquibancada, também é.
E não podemos esquecer dos eventos corporativos, que são superimportantes pro setor. Um congresso de medicina, mesmo que para centenas de pessoas, pode ser realizado de forma segura mantendo os protocolos necessários (uso de máscaras, capacidade reduzida, distanciamento físico, higienização redobradas etc).
Esses eventos podem acontecer em locais amplos e arejados, sem o consumo de bebidas alcoólicas e com a circulação controlada . São exemplos bem diferentes do que a gente pensa de primeira, né?
Por isso é tão importante quebrar a caixa dos eventos e entender melhor as suas particularidades.
Mega eventos, como por exemplo o Rock in Rio, que teve sua edição de 2021 no Brasil novamente adiada, realmente terão muito mais dificuldade pra um retorno em breve. O mesmo vale para grandes shows ou festivais com muita circulação e consumo de álcool.
Para entender melhor essa questão, abaixo segue a matriz que nós do øclb criamos e apresentamos em nosso último aulão sobre a volta dos eventos presenciais. Ela pode te ajudar a entender o racional por trás da volta dos eventos presenciais e o que é preciso fazer para que eles aconteçam de forma segura:
Porém, antes de tudo, pra determinar se um evento presencial vai poder acontecer, é preciso avaliar o estágio local da pandemia quanto ao nível de contágio, pra aí sim entrar no mérito das características do evento e depois nas ações práticas pra que ele aconteça.
Uma das ações que restamos observando sobre a volta dos eventos em países cuja maior parte da população já está vacinada, por exemplo, é o passe verde, utilizado em Israel. Trata-se de um certificado de vacinação, que dá direito a circular em qualquer lugar fechado, embora ainda com máscaras. Ele pode ser apresentado em um aplicativo baixado no celular ou impresso em um documento branco e verde que também inclui o QR code.
Se isso daria certo no Brasil, é outra questão (lembre-se: “a cultura come a estratégia no café da manhã”)
Fato: em uma aceleração maior ou menor dependendo do lugar, os eventos presenciais estão voltando, mas adaptados pra essa nossa nova realidade. O momento que vivemos é inédito, e todos os setores tiveram que repensar sua forma de funcionamento. Com o setor de entretenimento ao vivo não foi diferente.
Pra fechar esse artigo olhando o copo metade cheio.
Sim, é possível que os eventos presenciais retornem ainda nesse próximo semestre ao Brasil.
Para isso, é preciso primeiro entender se o estágio local da pandemia apresenta condições seguras. Em seguida, que tipo de evento pode ser realizado visando o mínimo de risco possível (veja a matriz acima). Por fim, desenhar os protocolos, valida-los com os órgãos públicos locais e cuidar para que eles sejam respeitados.
Sempre acreditei e vivi pelo lema “diversão levada a sério”. Agora, mais que nunca, essa deve ser a meta para quem atua no setor de eventos.
Só assim, teremos uma retomada com segurança e responsabilidade.