Quando um evento move o mundo: a residência do Bad Bunny em Porto Rico

Quando um evento move o mundo: o caso da residência do Bad Bunny em Porto Rico
Reprodução / YouTube Coliseo de Puerto Rico

Não sei se o seu algoritmo conseguiu te fazer fugir do assunto desses últimos meses, mas a residência do Bad Bunny em Porto Rico acabou de acontecer.

O turismo de experiências ou o formato de residências não são uma novidade (Las Vegas que o diga), mas a residência Bad Bunny é consequência e parte de um movimento maior de descentralização dos polos de entretenimento do mundo – e que tem tudo a ver com a gente aqui no Brasil. 

No Me Quiero Ir De Aquí: números da residência do Bad Bunny impressionam   

Lá em Janeiro chegamos a falar no LinkedIn sobre como a campanha de divulgação do álbum do Bad Bunny estava sendo uma aula de experiência. A residência No Me Quiero Ir De Aquí é mais um passo neste sentido.

No ano de seu maior lançamento, o artista escolheu levar todo mundo até seu país, anunciando uma sequência de 30 datas no Coliseo de Puerto Rico, com 9 destas exclusivas para moradores da ilha

A jogada deu certo: fãs locais se sentiram valorizados e a imprensa internacional virou os olhos pro país.

Sem sair de casa, o saldo final foi de mais de 400 mil ingressos esgotados em quatro horas, mais de $713 milhões de dólares movimentados para Porto Rico, 217% de aumento na procura por voos só no período de anúncio da residência, mais de 2.000 empregos temporários gerados

E um bônus: o artista anunciou una más, uma apresentação extra para residentes locais com transmissão gratuita pela Amazon Prime neste dia 20 de setembro. Olha o streaming vivo aí, gente.

Essa residência é um feito histórico pro país. Não dá pra subestimar o impacto econômico, tampouco o cultural. 

Uma residência em San Juan não é como uma em Las Vegas, uma cidade em constante alta turística, ou até como a Adele em Munique, na Alemanha – uma saída para a artista que confessou ter se cansado de turnês.

Está mais próximo do que fazemos – e podemos fazer ainda mais – por aqui.

Destino: Brasil

A jogada do Bad Bunny é espelho do movimento que vemos nos festivais ou grandes eventos globais há anos. As pessoas se programam para ir anualmente ao Coachella, ao Primavera Sound ou ao Carnaval brasileiro. 

Mas no caso de uma residência como essa, há um FOMO mais latente – a sensação de que é agora ou nunca para você viver essa experiência. Não terá outra residência do Bad Bunny para este álbum, neste contexto. Quem foi, foi. Quem não foi, queria ter ido (e vai poder ir na turnê global que ele deixou pro ano que vem – que não passará pelos EUA, mas passará por aqui).

Enquanto o Brasil não tem um Bad Bunny em termos de projeção internacional no pop (ainda), diversos outros eventos estão intensificando este movimento por aqui.

É só olhar pro Rock in Rio: 46% das 730 mil pessoas que passaram pelo evento no ano passado não eram do estado. O resultado pra cidade do Rio foi de R$3 bilhões movimentados.

O mesmo tem acontecido com o movimento recente do Todo Mundo no Rio. O show da Lady Gaga em Copacabana rendeu R$600 milhões de reais pra cidade.

E isso não está restrito aos shows. O Festival de Parintins gerou uma receita de R$ 215,6 milhões com turistas. A estreia dos jogos da NFL no Brasil, em 2024, trouxe 69% do público de fora de São Paulo, sendo 12% destes gringos.

A diferença é que Bad Bunny fez isso sozinho, a partir de casa, com uma residência pensada para fortalecer sua comunidade e a economia local.

Mas e se mais artistas latinos criassem grandes experiências sem sair de casa? O que mudaria no turismo, na economia, nos formatos?

É um convite pra pensarmos como podemos desenhar experiências que façam o mundo vir até aqui, e não apenas esperar que os brasileiros circulem pelo mapa.