O título do artigo pode parecer ambicioso – principalmente numa quarta-feira de cinzas, quando está sendo publicado – mas as evidências mostram que estamos caminhando para isso…
Os quatro dias de festa de Carnaval (fora os meses não oficiais) são quase indissociáveis da ideia de bebidas alcóolicas. É o período em que as marcas de bebida dominam os patrocínios, seja nas festas de rua, no sambódromo ou nos eventos privados.
Então foi curioso ver que não faltaram reportagens como essa do Estadão com dicas de drinks não alcoólicos pro Carnaval de 2024.
Curioso, mas não surpreendente.
Esse é um reflexo de uma mudança cultural maior (que já mapeamos em nossa palestra de tendências para eventos e experiências em 2024).
É a vez do estilo de vida “sober curious” (ou “sóbrio curioso”), principalmente para as gerações mais novas, e isso impacta diretamente nos eventos.
Sober o que??
“Sober Curious” é um comportamento que começou a ganhar tração sob esse nome no fim da década passada.
Em 2018 começaram as discussões e publicações com o termo, discursando a favor de uma vida sóbria, deixando pra trás as ressacas e os outros malefícios do álcool.
Dá pra notar o paralelo dessa conversa à crescente do discurso de wellness e a busca por uma vida mais saudável, principalmente entre as gerações mais novas.
Cinco anos depois, a tendência já parece ter impactos mais expressivos no consumo dentro e fora dos eventos.
2023, por exemplo, foi o primeiro ano em que a faixa etária de 18 a 24 não foi a que apresentou o maior índice de consumo de álcool regularmente.
Hoje, o mercado de bebidas não-alcoólicas ou com baixo teor alcoólico é avaliado em mais de 13 bilhões de dólares. E só cresce.
Falamos em mudança cultural porque não é só um reflexo na venda direta de bebidas, mas que atinge até mesmo as músicas. De 2017 para 2023, as menções sobre “ficar bêbado” caíram 79% nas paradas de música do Reino Unido, por exemplo.
E se considerarmos que as marcas de bebida são algumas das principais patrocinadoras de eventos no Brasil…
Como fica o futuro sober curious para os eventos?
Costumamos dizer que festivais de música são eventos que captam o espírito do seu tempo. E foi justamente neles que começamos a notar essas mudanças.
Em 2017, estávamos no NOS Primavera Sound do Porto quando vimos um bar da Coca-Cola com mocktails, drinks sem álcool.
E agora começamos a ver a oferta de bebidas sem álcool cada vez mais frequentes nos eventos.
A Heineken promoveu a sua alternativa não-alcoólica no The Town, além de patrocinar o show do intervalo na final do campeonato brasileiro do e-sport League of Legends, e a Budweiser e outras cervejas da Ambev tiveram suas versões zero ativadas na Festa do Peão de Barretos, por exemplo.
A questão é que o ritmo e os hábitos de consumo mudaram muito depois da pandemia.
Essa tendência não é isolada. Ela vem acompanhada do desejo do público de consumir alimentos mais saudáveis no evento, conseguir chegar mais cedo em casa e não amanhecer no dia seguinte sem disposição devido à ressaca, por exemplo.
Porém, como toda sinalização de mudança comportamental, esse não é um movimento horizontal, que impacta todas as partes do mundo da mesma forma, e também não é apenas sobre a Gen Z querendo ser mais saudável.
Nos EUA, por exemplo, foi observado que 82% das pessoas que compram bebidas não alcoólicas também compram as que têm álcool.
E enquanto observamos a queda do consumo de álcool entre a Gen Z, eles também estão usando cada vez mais outras substâncias em festas e eventos.
Existem mais nuances para essa conversa.
Mas fato é que a maneira como nos divertimos está passando por uma evolução notável e quem trabalha com eventos precisa estar atento ao zeitgeist. E, como vimos nos exemplos, já tem gente saindo na frente nessa mudança.
Um brinde ao futuro! Escolha o seu… 😉
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