Web Summit Rio 2023: inteligência artificial, desafios técnicos e criatividade brasileira

Foto: Divulgação / Web Summit Rio

A aguardada estreia do Web Summit Rio 2023 aconteceu com altos e baixos, mas a segunda temporada já está confirmada: o evento assinou contrato para realizar edições anuais no Brasil até 2028. 

Quem pensa em tecnologia, inovação e empreendedorismo acompanhou atentamente o que aconteceu no Web Summit Rio, seja como uma das 21.367 pessoas que estavam presencialmente ou quem assistiu à transmissão online. 

Reunimos e compartilhamos a seguir nossas impressões dos quatro dias de evento que ocuparam o Riocentro, no Rio de Janeiro. 

Inteligência Artificial: a grande protagonista do Web Summit Rio 2023

A Inteligência Artificial foi inegavelmente “o assunto” dessa edição, ganhando destaque até mesmo nas conversas em que não era o tema. 

Por isso, saímos com a impressão de que diversos assuntos relevantes em um evento que trata de inovação no Brasil – DE&I e ESG, principalmente – ocuparam posição de coadjuvantes.

A organização dos palcos por tracks (temas) em diferentes dias também tornou essa divisão mais explícita. Palcos como o Creatiff, focado em criatividade, ou SportsTrade, voltado para o futuro dos esportes, por exemplo, pareciam deslocados do evento dominado por assuntos mais tecnológicos. 

Também sentimos falta por aqui da Planet:Tech, track voltada para discutir soluções para o meio ambiente e sustentabilidade, que só acontece em Lisboa, mas que é importantíssima dado o volume de investimentos em startups de agrotech e climatech, além do papel que o Brasil ocupa nessa pauta.

Talvez seja necessário repensar a distribuição das tracks ao longo da programação para as próximas edições. 

Será que até 2024 a Inteligência Artificial continuará sendo o assunto da vez? Ou ela vai seguir o caminho do metaverso, Web3 e NFTs, que saíram do hype tão rápido quanto entraram?

Falando em hype, vale conferir como essas e outras tecnologias fazem parte do Gartner Emerging Technologies and Trends Impact Radar:

Imagem: Reprodução / Gartner

Onde está o S de ESG? 

Apesar de ser um assunto presente nas falas dos palestrantes, a acessibilidade e inclusão parecem não ter sido uma prioridade para a organização de um evento do tamanho do Web Summit Rio. 

Desde o início, o evento comunicou que o idioma oficial seria o inglês. Porém, apenas as palestras do Center Stage contavam com tradução para português no aplicativo e não havia tradução para libras em nenhuma delas. 

Ainda sobre a questão de manter o inglês como idioma oficial do evento, vale lembrar que o Web Summit nasceu em Dublin, onde inglês é idioma oficial. Em 2016, o evento se mudou para Lisboa – onde 60% da população fala inglês , sendo Portugal considerado o 7º país do mundo que melhor fala o idioma. Essa não é a realidade brasileira: apenas 5% da população do país consegue se comunicar em inglês e 1% é considerado fluente. 

Nossa opinião: palestras em inglês ou em português deveriam ser uma escolha dos participantes. Se um palestrante tem interesse em se comunicar com um público internacional, então apresente-se em inglês. Se não, cabe ao evento proporcionar um serviço de tradução – e não impor isso aos palestrantes. Em um país onde o McDonald’s passou a se chamar Méqui, essa é uma atitude que nos pareceu não-inclusiva e desrespeitosa.

Porém, em um típico exemplo de “jeitinho brasileiro”, ao longo dos dias mais e mais palestras foram apresentadas em português, seja nos stands de marcas, seja nos palcos do evento. Algumas das mais elogiadas palestras do Web Summit foram em português, como as da Luiza Trajano, com Gabriel Braga e Roberto Marinho Neto; a da Txai Suruí na noite de abertura, ou as da Bianca “Boca Rosa” Andrade e a do Kondzilla. 

A complexa noite de abertura 

A primeira noite de Web Summit é uma abertura realizada exclusivamente no Center Stage, palco principal do evento, sem a presença dos demais palcos ou feira de startups e expositores. Como avisamos no artigo 10 hacks para otimizar a experiência no Web Summit, é um dia quase sempre caótico (nossa dica: “se puder evitar, não vá”). Na edição carioca não foi diferente (nós avisamos). 

As falhas na produção começaram antes mesmo da abertura dos portões. Com pouco direcionamento da produção do evento no local, os participantes estavam confusos quanto ao horário de início do evento e começaram a formar fila duas horas antes da abertura dos portões. 

Devido à desorganização e ao espaço limitado na estreia, muitas pessoas nem conseguiram entrar no Riocentro, apesar de terem se deslocado até o local e enfrentado longas filas para o credenciamento.

Vale pensar: por que a organização insiste em fazer este primeiro dia com apenas um palco funcionando com capacidade máxima para 2.000 pessoas, quando 20 mil foram confirmadas para o evento? Ah, em Lisboa, acontece a mesmíssima coisa.  

Por que tantos problemas técnicos de produção?

Créditos: Divulgação / Web Summit Rio

Ainda no primeiro dia, quem conseguiu entrar no Center Stage ficou decepcionado com a organização e qualidade do som. 

Participantes que estavam nas arquibancadas não conseguiam ouvir as palestras, os microfones não funcionavam e o teleprompter chegou a falhar com o Luciano Huck – que passou a ler seu texto em um papel impresso depois de verbalizar sua insatisfação com a falha técnica. A frustração também foi sentida por quem estava em casa acompanhando a transmissão, com falhas graves como som vazando e variações de volume do barulho intenso ao inaudível.

Falhas técnicas em microfones, apresentações de slides e exibições de vídeos seguiram acontecendo durante os próximos dias de conferência. É verdade que na quinta-feira (04/05), o evento já estava quase todo rodando perfeitamente. Porém, ninguém esperava que uma conferência que se propõe a ser referência em conversas de tecnologia no mundo apresentasse tantos problemas técnicos de natureza básica. 

Palestras e conteúdo vs corredores e networking

Esta edição reforçou que existem dois eventos dentro do Web Summit. 

O primeiro é para quem foi com foco em networking, encontrando clientes, fornecedores e parceiros, visitando stands, descobrindo startups e participando de eventos e happy hours. Para esse grupo, a maior parte das pessoas nos informou que a experiência do Web Summit foi fantástica.

O segundo evento é aquele para quem foi com foco em conteúdo, optando por acompanhar as palestras. Esse grupo pareceu sair decepcionado do Web Summit Rio (exceto quem foi em busca de discussões sobre IA), seja pela falta de diversidade nos palcos, problemas técnicos ou discussões rasas – dado a duração média das palestras de 15 a 20 minutos. 

Felizmente, o aprofundamento nas temáticas ganharam continuidade nos stands de marcas que propuseram excelentes palestras (em português) e ficaram lotadas. Destaque para a programação que rolou nos palcos do Itaú BBA, Banco BV e B3 (essa última, participamos também em duas palestras lotadas para resumo diários e dicas de curadoria).  

O futuro é aqui

“Para mim, o Rio sempre representou o futuro”, disse Brian Collins. Essa declaração do CCO da COLLINS ecoou nas falas de outros palestrantes nacionais e estrangeiros, além de atravessar os exemplos concretos de startups e empresas que apresentaram suas inovações nos pavilhões do evento. Aliás, as ativações de marca foram um destaque à parte, apresentamos algumas delas aqui.

É fato: o Brasil dá aula de inovação. E foi super merecido o prêmio PITCH 2023 do Web Summit ir para a Jade Autism, empresa brasileira focada na educação inclusiva.

A cidade abraçou o Web Summit, confirmando mais cinco edições cariocas até 2028 e anunciando um novo fundo de investimentos em tecnologia. O evento não vai embora tão cedo, principalmente se depender da animação do público – apesar dos problemas técnicos, as pessoas se mostraram entusiasmadas, fazendo ondas dignas de estádios de futebol no palco principal, as famosas “ola”, e criando até mesmo grupo de paquera durante o evento. Mais Brasil que isso, impossível! 

O Web Summit Rio volta com mais força em 2024, com o desafio de expandir-se para 30 mil pessoas já anunciado pelos seus fundadores, mas também de resolver os problemas de produção que enfrentaram este ano.

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