“Como organizadores de eventos podem fazer parte do metaverso?”
Essa foi uma das perguntas que respondemos semana passada para estudantes de turismo do Instituto Federal de Brasília durante a palestra “O Futuro dos Eventos”.
A pergunta é muito boa, daquelas que mesmo depois da palestra terminar, continuamos pensando sobre ela.
Foi aí que nos demos conta que ainda não havíamos escrito um artigo dedicado ao metaverso (apesar de já termos mencionado o assunto por aqui mais de uma vez, quando fizemos um estudo de caso sobre experiências de marcas no metaverso).
Então lá vai… Separa o café, respira fundo e vem com a gente!
Metaverso – um discurso em disputa
Em sua aula inaugural no Collège de France (que mais tarde foi transcrita e publicada na íntegra no livro “A Ordem do Discurso”), o filósofo Michel Foucault afirmou que todo discurso é alvo de disputa.
Controlar narrativas é uma forma de poder. Não à toa um dos primeiros atos de Hitler foi o Bücherverbrennung, termo alemão que significa “queima de livros”.
Portanto, quando perguntados sobre o metaverso, começamos a responder sempre da mesma forma: primeiro, é preciso lembrar que esse é um termo ainda em definição.
Ainda são muitos os interesses e disputas pelo controle dessa narrativa.
Historicamente, a expressão metaverso apareceu pela 1ª vez em 1992 no livro de ficção-científica “Snow Crash” (no Brasil, Nevasca) do autor norte-americano Neal Stephenson.
No wikipedia, Metaverso é “a terminologia utilizada para indicar um tipo de mundo virtual que tenta replicar a realidade através de dispositivos digitais. É um espaço coletivo e virtual compartilhado, constituído pela soma de realidade virtual, realidade aumentada e Internet“.
Daí, no final do ano passado, vem o Mark Zuckerberg dizer que o Facebook virou META e que a partir desse ponto toda a visão de futuro da rede social convergiria para o metaverso.
Abaixo você vê o resultado das pesquisas no Google sobre a palavra metaverso. O pico acontece no momento em que Mark anuncia o novo nome de seu negócio:
Portanto, como esse termo ainda encontra-se em definição (e disputa), qualquer afirmação do tipo “o metaverso é isso ou aquilo” não deve ser encarada como uma verdade absoluta.
Voltemos ao Foucault e “A Ordem do Discurso”. Empresas de games, gigantes da tecnologia e marcas globais como Nike, Gucci e Coca-cola estão construindo seus metaversos ou investindo pesado nesse novo mercado. Alguns desses negócios já estão até criando o cargo de “chief of metaverse”.
Em sua lista anual de previsões, o prof. Scott Galloway (olha ele aí de novo) encabeça a desse ano afirmando que “o metaverso de Mark Zuckerberg será o grande fracasso tecnológico de 2022”.
Ele explica que a habilidade que o Facebook tem de comprar novos negócios e incorpora-los em seu ecossistema não é a mesma que a empresa tem de criar novos produtos internamente.
Galloway reforça o argumento apontando o fato que muitas outras empresas de tecnologia já estão desenvolvendo seus próprios metaversos e que provavelmente uma dessas vai sair na frente e construir “o” metaverso (provavelmente a Apple, ele aposta).
Então, para responder à pergunta do título desse artigo, precisamos primeiro chegar a um acordo sobre o que é metaverso. No mínimo, de que metaverso estamos falando.
E que tal uma nova perspectiva?
Uma outra maneira de explicar o metaverso
Vem circulando na web esse fio sobre o metaverso que é um dos mais elegantes e didáticos para entender esse conceito.
Segundo Shaan Puri, ex-diretor da plataforma Twitch, o Metaverso não é um lugar. É um momento no tempo:
“Um momento no tempo onde nossa vida digital vale mais que a vida física”.
Pense sobre essa frase. Pode parar de ler esse artigo por uns minutinhos. Separou aquele café? Então, essa é a hora de tomar um golão e refletir sobre a definição acima.
Shaan explica que há pelo menos 20 anos nossa vida digital vem ocupando um espaço cada vez maior da nossa vida física.
Pense na quantidade de tempo que você passa o dia no whatsapp ou redes sociais (você já sabia que o Brasileiro é o povo que mais passa tempo por dia no celular, né?).
Quantas reuniões você tem por dia no Zoom, Meets, Teams etc?
E quanto tempo você passa em jogos online?
As skins são as novas roupas. As criptomoedas, o novo dinheiro. Os filtros de instagram, a nova maquiagem. A realidade aumentada, um remix da realidade física.
O conceito do metaverso como um momento no tempo está diretamente ligado ao que a futurista Amy Webb disse no SXSW 2021 quando afirmou que “você já está vivendo uma realidade mista”.
Cada vez mais, a realidade será uma mídia. Como nos games, você escolhe o seu destino.
Tudo isso quer dizer que metaverso já está no meio de nós.
Essa é só mais uma revolução que não será televisionada.
Conclusão: como planejar suas futuras experiências no metaverso?
Primeiro, entenda que ninguém sabe direito ainda o que é esse tal de metaverso. Ainda é tudo mato e tem muita gente grande querendo capiná-lo para lotear esse terreno em seguida.
Segundo, procure substituir a definição de metaverso como um lugar por um momento no tempo.
Terceiro, por fim, estude e mapeie jornadas de experiências.
Jornadas de experiências são uma das ferramentas e conceitos mais importantes para criadores de experiências.
É um dos assuntos mais recorrentes em nossas aulas do øclb academy (inscreva-se para ser avisade da próxima abertura de vagas aqui).
Jornadas são a forma como você mapeia os pontos de contato com a sua marca/negócio/evento que seu público vai encontrar (ou ser encontrado por ela) ao longo do tempo.
Para planejar as experiências do futuro, o trabalho de mapear e construir jornadas é fundamental. Porque são elas que vão te ajudar a definir o que você vai projetar no mundo físico e no mundo virtual. E como ambos se relacionam entre si.
Aplicando para a lógica dos eventos, é possível criar por exemplo momentos online, offline e online (OOO) numa jornada cíclica e infinita. Vale deixar claro que cada caso é um caso e nem toda jornada deve ser cíclica. Mas entender esse conceito vai te ajudar a planejar o que pode ser feito no digital e o que pode ser feito no mundo físico (e o que vai em ambos).
Por fim, mais importante que queimar neurônios sobre como organizar eventos no metaverso é compreender que eventos são apenas ferramentas.
Especialmente em um mundo cada vez mais digital, onde o streaming disputa a nossa atenção e come cada vez mais uma boa parte do nosso tempo, facilitar conexões é e continuará sendo o principal objetivo. Concorda?
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