Web Summit 2022: 6 aprendizados que levamos da maior conferência de tecnologia do planeta

Caótico, mas também catártico. É assim que resumimos como foi o Web Summit 2022, evento de tecnologia e inovação que aconteceu, em Lisboa, entre os dias 1 e 4 de novembro. 

O evento acompanhou a “vibe” do ano de 2022. Por um lado, foi um ponto de encontro para resgatar as experiências presenciais e matar a saudade do networking global que só esse tipo de festival é capaz de proporcionar. 

Por outro lado, o evento também abraçou os desconfortos do momento atual: a invasão da Rússia à Ucrânia, a crise energética e climática, a fragilidade da democracia, a recessão que invadiu o setor de tecnologia e a volatilidade dos mercados. 

Para discutir estes e outros temas relacionados a tecnologia e negócios, o Web Summit trouxe a seus palcos líderes de big techs, startups, políticos e ativistas. 

Quer saber mais sobre como foi essa edição do Web Summit? Confira um resumão e os principais insights a seguir. 

O que é o Web Summit?

Bastidores do Web Summit 2022 / Fonte: Divulgação Web Summit

Talvez você nunca tenha ouvido sobre esse festival e só foi conhecê-lo nos últimos dias, com a chuva de posts sobre o evento no LinkedIn.

Com pouco mais de uma década de história, o Web Summit tornou-se um ponto de encontro para líderes de negócios, tecnologia e empreendedores ao redor do mundo. Também colocou a cidade de Lisboa no mapa de tecnologia como um hub de startups. A cidade movimenta, anualmente, mais de US$ 300 milhões com o Web Summit.  

A programação trouxe painéis, pitches de negócios, rodas de Q&A, além de um pavilhão de negócios e networking. Ao todo, foram 26 trilhas temáticas distribuídas por 4 dias de evento. 

Um balanço do Web Summit 2022

Trilha DeepTech / Fonte: Divulgação Web Summit

Apesar do cenário econômico, o Web Summit vendeu mais rápido do que qualquer edição anterior e teve um recorde de público. O evento recebeu 71 mil participantes do mundo todo, 28 mil a mais do que em 2021.

O resultado você já imagina. Quem foi ao evento enfrentou filas, aglomerações e auditórios lotados. Isso sem falar em alguns problemas técnicos, como uma caixa de som que caiu logo na noite de abertura e atrasou o início do festival.

Mas estes perrengues foram só detalhes perto do aprendizado e das conexões do festival. Além disso, uma aglomeração com tantos encontros possíveis não faz mal a ninguém depois de dois anos de eventos virtuais, né?

Brasileiros no Web Summit 2022

Essa aí é a galera do Itaú (time de experiências de marcas + IBBA), que a gente encontrou durante o Web Summit

Para além da migração de brasileiros para as terras portuguesas, a presença do Brasil em Lisboa também foi bonita de ver durante o Web Summit. 

O Brasil teve a 3ª maior delegação de participantes, atrás apenas do Reino Unido e da Alemanha. 

Já a Apex Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) levou 80 empresas para a capital portuguesa, entre startups e entidades de empreendedorismo e inovação.

A presença em massa dos brasileiros é só um spoiler do que vem por aí. Em 2023, o Web Summit ganha uma edição brasileira no Rio de Janeiro. A expectativa é receber 15 mil pessoas no Web Summit Brasil em maio (e aí, quem vamos?).

E enquanto a versão brazuca não chega, separamos os principais insights e aprendizados do Web Summit, em Lisboa. Continue a leitura para saber mais!

Aprendizados do Web Summit 2022

1 – A tecnologia é política

Olena Zelenska, primeira-dama da Ucrânia / Fonte: Divulgação Web Summit

O Web Summit 2022 trouxe um “sacode” à comunidade tecnológica e de negócios que, muitas vezes, é isenta diante de questões globais.

Vários dos painéis e palestras reforçaram o papel de empresas em fomentar ecossistemas de inovação locais e usar soluções tecnológicas para amenizar problemas sociais e geopolíticos. 

Um dos destaques da programação foi a fala da primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska. Ela abordou as guerras cibernéticas e como soluções de software e big data são usadas no cenário da guerra da Ucrânia. “Suas tecnologias e áreas de especialidade hoje estão sendo usadas pela Rússia na guerra contra a Ucrânia”, disse.

Já a rainha da Jordânia, Rania Al Abdullah, falou sobre os vieses envolvidos em questões humanitárias e também nos negócios. 

“É difícil ignorar a diferença de generosidade, tom e urgência no tratamento de refugiados da Ucrânia em relação àqueles da Síria, Sudão do Sul ou Myanmar.  Se não conseguimos superar nossos vieses inerentes, como podemos esperar que a IA não tenha vieses?”, complementou.

2 – A Inteligência artificial não tem (tanto) glamour

Estrutura 3D criada pela IA AlphaFold, da Deepmind

A inteligência artificial foi tema de diversas conversas e projetos apresentados, mas com ressalvas. 

Por um lado, o Web Summit trouxe à tona projetos inovadores.  Um deles foi o AlphaFold, da Deepmind, um modelo de IA que consegue criar estruturas 3D para 200 milhões de proteínas – acelerando a descoberta de cientistas em anos.

Outro destaque foi uma conversa com o cientista-chefe da Alexa, Rohir Prasad, que compartilhou os planos de tornar a assistente virtual uma “companhia” capaz de ter longas conversas, e não só responder a comandos. 

No entanto, a forma como a IA tem sido desenvolvida foi alvo de críticas. Noam Chomsky, autor, linguista e filósofo, trouxe provocações emblemáticas. Para ele, os modelos de IA mais recentes e vistos como inovadores, como o GPT-3,  não trazem nenhuma contribuição científica além da utilidade em si, além de não nos ajudarem a decifrar a mente humana. 

Gary Marcus, cientista da NYU, ousou dizer que em 2023 veremos “a primeira morte atribuída a uma inteligência artificial”. Já a rainha da Jordânia (ela de novo), Rania Al-Abdullah, defendeu que, quanto mais delegamos decisões para a IA, mais abdicamos do nosso próprio processo de reflexão e discernimento como humanos. 

É para se pensar, não é?

3 – Responsabilidade climática no roadmap das empresas

Brad Smith, Vice-presidente da Microsoft / Fonte: Flickr

O Web Summit também buscou responsabilizar as empresas na contenção da crise climática. Ativistas como Sophia Kianni, membro do painel da ONU para mudanças climáticas, reforçaram que as empresas são responsáveis pela maior parte das emissões de carbono.

Líderes de empresas como Apple, Microsoft e até da Shein também compartilharam suas agendas para amenizar seu impacto climático. 

Brad Smith, Vice-presidente da Microsoft, que tem o plano de ser carbono-negativa até 2030, trouxe uma das apresentações mais impactantes sobre o tema.

“Mais de 3.9 mil empresas assumiram promessas de redução de emissão de carbono até 2030, mas o desafio é garantir que sejam cumpridas. O mundo que queremos construir precisa ser net zero até 2050 e essa vai ser a missão mais difícil da humanidade”, disse. 

4 – O “exposed” corporativo vai continuar 

MacGann, ex-executivo e lobista da Uber / Fonte: Flickr

Na era do ESG, o Web Summit também provou que práticas questionáveis das empresas serão cada vez mais expostas, inclusive por funcionários e ex-funcionários das empresas. 

Depois de episódios envolvendo o Facebook e outras big techs, o Web Summit trouxe ao seu palco para uma entrevista Mark MacGann, ex-executivo e lobista da Uber que vazou mais de 120 mil documentos da empresa ao The Guardian. Sua denúncia mostrou como a Uber usava práticas anti-éticas para conquistar mercados globalmente.

“Se você tem o privilégio de estar na sala e testemunhar decisões questionáveis, então tem o dever de falar”, encorajou ele. 

5 – Se organizar a Web3 direitinho, todo mundo ganha

Naomi Gleit, head de produto da Meta / Fonte: Meio Mensagem

O futuro da internet foi discutido quase à exaustão no festival. Como será o futuro da internet com a Web3 e suas redes de blockchain, metaversos e NFTs? A conversa sobre o tema teve um pé na realidade atual e outro na especulação.

Especialistas como o CEO da Binance, marketplace de criptomoedas, e a CEO do coletivo de NFTs The Bored Ape Yacht Club (BAYC), falaram de como a economia “tokenizada” já está gerando valor para investidores e artistas. Apesar da volatilidade e dos altos valores hoje, as criptomoedas e NFTs tendem a trazer mais transparência e oportunidades de monetização online. 

Para falar da “buzzword” de 2022 – o metaverso – o Web Summit 2022 trouxe a head de produto da Meta, Naomi Gleit, e Herman Nerula, CEO da Improbable, empresa avaliada em US$ 3 bilhões e que está construindo uma infraestrutura para marcas em metaversos.

Na visão deles, para que o Metaverso funcione, precisa operar em um modelo  próximo a um coletivo, no qual a infraestrutura-chave seja criada por várias empresas conectadas. “Nenhuma empresa pode ser dona do metaverso, da mesma forma que nenhuma empresa é dona da internet”, projetou Naomi. 

Ela nega que a Meta queira monopolizar essa nova fase da Web. Bom… veremos. 

6 – Conteúdo é rei. Ou melhor, um democrata.

Amrapali Gan, CEO do Only Fans / Fonte: Flickr

Na web como conhecemos, poucas plataformas e players têm alcance orgânico e concentram o valor gerado pelo conteúdo. Porém, muitos palestrantes do Web Summit argumentaram que isso tende a mudar. 

A CEO da Only Fans, o diretor e empresário Kondzilla e até líderes mais tradicionais, como Sir Martin Sorrell e a CMO da Lego, Julia Goldin, reconheceram que o futuro do marketing e do conteúdo está na democratização das relações e distribuição de valor no digital. 

Falou-se muito de como produtores de conteúdo terão mais controle (e lucros) sobre seu trabalho. “Gosto muito de ter controle e participação no resultado do que produzimos na Kondzilla”, exemplificou o empresário brasileiro em seu painel, em crítica à sua produção com a Netflix (Sintonia) a qual ele vendeu os direitos autorais. 

Amrapali Gan, CEO do Only Fans, acredita que esta lógica vai transformar o marketing de influência e relação de players de conteúdos com plataformas. “A ideia é que a plataforma só ganhe dinheiro se os creators ganharem. Realmente colocando quem produz no centro, em vez de anunciantes”, argumentou. 

Se o mercado seguir assim mesmo, a máxima do “conteúdo é rei” ganhará ares mais democráticos.

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